Destino turístico em ascensão, Bogotá combina dias frios com noites “quentes”. Os dias frios se devem à altitude em que se encontra a capital colombiana, a cerca de 2.600 metros acima do mar, o que garante temperaturas amenas o ano todo, inclusive no verão. À noite, a cidade esquenta com os ritmos tocados nas baladas, provenientes da sensual cena latina. Localizada em uma posição central, em um país de enorme diversidade cultural e geográfica, Bogotá tem um passado e uma vibração cultural notáveis. Até poucos anos atrás, era um destino pouco cogitado por turistas e também de certa forma evitado por empresários e viajantes de negócios.
A violência ligada ao narcoterrorismo espalhou fundas raízes na sociedade colombiana e só começou a ser extirpada na década de 1990, com o início do Plano Colômbia e a caçada a Pablo Escobar. Para que o país estivesse pronto a se abrir novamente ao turismo, era necessário que os próprios colombianos se sentissem seguros em suas casas. O combate ao terrorismo, a queda abrupta dos índices de violência e a erradicação dos atentados à bomba na capital geraram a confiança necessária à retomada dos negócios.
Hoje, Bogotá é uma cidade segura e próspera, mas a guerra contra as máfias do tráfico deixou algumas sequelas. A presença de homens armados nas ruas, seja da polícia, do exército ou seguranças privados, é ostensiva e, de certa forma, opressiva para os padrões de uma democracia. As noitadas quentes são interrompidas às 3h da manhã, por questão de segurança.
Acima de tudo, Bogotá surpreende e sempre deixa na gente aquela impressão: “por que não pensei em vir para a Colômbia antes?”. Como diz o slogan da campanha de divulgação do país como destino turístico, se há algum risco ao ir para lá, é o de não querer mais voltar.
Não faltam opções de bons restaurantes em Bogotá, assim como são amplas as alternativas para comer na rua. Aos que gostam de se aventurar por sabores locais pelas ruas, indica-se provar a arepa, bolinho de mandioca recheado encontrado em cada esquina, onde os vendedores de fruta também são populares.
Leo Cocina y Cava - Calle 27B, 6-75 - Comandado pela chef Leonor Espinoza, esse aconchegante restaurante instalado próximo ao centro histórico oferece deliciosos e inusitados experimentos a partir da culinária popular colombiana. O menu degustação da casa é uma grande viagem por sabores locais.
Casa de San Isidro - Cerro de Monserrate - Com um ambiente romântico, onde se pode jantar à luz de velas, esse é considerado o melhor restaurante de comida francesa da cidade. A carta de vinhos é excelente. E o melhor: lá não se chega de carro, mas de teleférico ou de funicular.
Habemus Papa - Carrera 6, 119-84 - Desde que a cidade de Usaquén foi definitivamente “anexada” pela capital colombiana, diversos restaurantes de qualidade passaram a se instalar ali. Habemus Papa oferece uma grande variedade de pratos típicos preparados de maneira tradicional.
Calles e carreras
Assim como em toda parte nas cidades colombianas, a maioria das ruas de Bogotá são nomeadas com números. A capital é esquadrinhada por carreras, longas ruas que cortam a cidade no sentido sul-norte, e calles, ruas numerosas dispostas no sentido leste-oeste. Num primeiro momento, pode parecer simples e prático como andar em Manhattan, cidade planejada que emprega uma lógica parecida. Mas não é bem assim, pois o traçado das ruas em Bogotá nem sempre é reto. O trânsito, bastante pesado e caótico na maioria dos dias, e os táxis, numerosos e baratos, desaconselham o viajante a alugar carro para se locomover.
Talvez por uma questão de superstição, a carrera 7 é quase sempre a rua mais importante nas cidades colombianas, caso que se aplica obviamente a Bogotá. É no cruzamento da carrera 7 com a calle 7 e com outras ruas paralelas do centro histórico que pulsa o coração dessa metrópole de pouco mais de 7 milhões de habitantes.
A carrera 7 é a que conduz à Plaza de Bolívar, nomeada em homenagem a Simon Bolívar, um dos heróis da libertação sul-americana, que viveu em uma casa a poucos metros dali. Comandante das lutas de independência de Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, Bolívar sonhava em construir uma unidade entre os países da América hispânica. No dia 7 de agosto de 1819, ele foi aclamado quando entrou na cidade por aquela praça, que se chamava então Plaza Mayor, acompanhado dos oficiais vitoriosos na batalha de Boyacá, selando a independência da Colômbia.
Atualmente, a sede do governo se encontra ali do lado, entre as calles 9 e 7. O enorme palácio presidencial foi construído no mesmo local onde antes se encontrava a casa de Antonio Nariño, outro herói da libertação do país e um de seus primeiros governantes.
Em torno da estátua de Simon Bolívar, a praça consolidou-se como um dos mais importantes espaços públicos da capital colombiana, com intensa movimentação de pedestres, onde gente da cidade e turistas se misturam. A Plaza de Bolívar é uma confluência de todas as épocas e tendências arquitetônicas de Bogotá, maior símbolo da cidade.
No canto oeste da praça se encontra a imponente Catedral Primada de Colômbia, que ganha uma iluminação especial no fim de tarde pelos últimos raios de sol. A primeira igreja a ser erguida no local data de 1539. Depois de passar por diversas transformações, o templo religioso foi completamente reconstruído entre 1807 e 1823.
Ao fundo das torres da Catedral e do palácio episcopal erguido ao lado, podemos entrever as sempre presentes montanhas de Bogotá. A cidade foi construída no sopé de dois grandes “cerros”, o Cerro de Monserrate e o Cerro de Guadalupe. Por isso, é muito comum deparar com o contraste entre as construções da cidade e as íngremes e verdes montanhas ao fundo.
Ouro pré-colombiano
O centro histórico, também chamado de Candelária, se espalha pelas calles de números menores. Na altura da calle 16 está o Museo del Oro, uma das principais atrações culturais da capital colombiana. A nova sede do museu foi construída entre 1998 e 2004 a partir de projeto do arquiteto German Samper Gnecco. O edifício, a disposição museográfica das peças no seu interior e principalmente o acervo são de “tirar o chapéu”.
No museu, descobrem-se fascinantes vestígios pré-colombianos, que datam de até alguns séculos antes de Cristo. Para os indígenas, o ouro não tinha valor comercial, mas simbólico e religioso. Para se ter uma ideia, algumas peças recolhidas no museu foram encontradas no fundo de lagoas, onde foram lançadas como oferenda aos deuses.
Na mesma praça do Museo del Oro está o edifício Avianca, erguido entre 1967 e 1970, uma das mais ousadas construções para sua época na América Latina. Em seu 23º piso, o edifício abriga um museu muito menos badalado, porém igualmente interessante, o Museo de la Esmeralda. A Colômbia é o maior produtor dessa pedra preciosa cobiçada pela coloração verde. No museu estão expostas algumas das peças mais raras encontradas no país.
Para quem gosta de joias ou quer levar um recuerdo para a pessoa amada, vale a pena visitar o museu por conta da loja, que reúne peças de esmeralda para todos os gostos. Infelizmente, não é para todos os bolsos: as peças começam custando na faixa de US$ 50 e podem chegar a até US$ 70 mil dólares.
Para quem viaja com o dinheiro mais “contado”, a região dos dois museus também tem seus atrativos. Ali estão as lojinhas de souvenires e de roupas, como os característicos casacos de lã de lhama. A diversidade de paisagens da Colômbia, que tem regiões no Pacífico, na Cordilheira dos Andes, na Amazônia e no Caribe, reflete na diversidade do artesanato.
O mesmo vale para a culinária e para a música. Os pratos colombianos têm uma séria “queda” pela mistura de ingredientes doces e salgados, caso das arepas, bolinhos feitos com farinha de mandioca (chamada de yuca) que podem receber recheios dos mais variados. A banana e o milho, de diversos tipos, são largamente usados.
Há uma profusão de tipos de fruta tropical, muitas delas existentes no Brasil, caso da melancia (sandia), do maracujá (maracuyá) e da manga (mango). Não deixe de provar o saboroso e refrescante suco de lulo, frutinha verde por dentro e laranja por fora que não existe por aqui.
Uma das misturas mais populares no café da manhã ou no café da tarde é o chocolate con queso, em que se põem para derreter pedaços de queijo em uma xícara de achocolatado bem quente.
Ainda no centro histórico, não se pode perder uma visita à Plazoleta Chorro de Quevedo. Ali, há a sensação de viagem no tempo, em meio às ruelas coloniais e às casas de fachadas coloridas. A pequena capela que adorna a praça está situada onde provavelmente se deu a fundação de Bogotá, em 1538, com a submissão dos indígenas da tribo chamada Bacatá (daí a origem do nome da cidade) pelas mãos do colonizador espanhol Gonzalo Jiménez de Quesada.
Local de fundação
Para completar a visita à região, é preciso descer da Plazoleta até o prédio onde fica o Museo Botero, na calle 11 com a carrera 4. O museu é dedicado à obra de Fernando Botero, artista colombiano bastante conhecido no cenário internacional por pintar e esculpir personagens gordinhos. O museu foi instalado em um belo casarão do século 18, que servia de albergue para arcebispos em visita à cidade.
No conjunto arquitetônico do Museu Botero estão instaladas outras importantes instituições, todas com entrada gratuita, assim como o museu. Entre elas, El Parqueadero, focado na arte contemporânea, a coleção de arte do Bando de la República de Colômbia e o acervo numismático da Casa da Moeda.
Depois de conhecer a cidade desde baixo, chega hora de explorá-la do alto das montanhas. O onipresente Cerro de Monserrate espia a cidade lá de cima, onde foi construído um importante santuário, que atrai milhares de peregrinos e, claro, de turistas, todos os anos. Enquanto os peregrinos sobem a pé ou de joelhos, quem não tem penitências para cumprir pode subir de teleférico ou de funicular.
O topo do Cerro de Monserrate alcança a altitude de 3.200 metros. Com a sorte de pegar um tempo bastante aberto, é possível avistar toda a extensão da cidade de Bogotá, numa panorâmica impressionante. Para não estragar a diversão, recomenda-se não esquecer as roupas de frio antes de subir. Para quem for acompanhado, o restaurante francês Casa San Isidro é o lugar perfeito para um jantar romântico à luz de velas.
De frente para o Cerro de Monserrate está o Cerro de Guadalupe, que também abriga seu santuário. De longe, avista-se a estátua de Nossa Senhora de Guadalupe, no alto da montanha, que não tem acesso por teleférico, mas pode ser visitado de táxi.
Zona de badalação
Se o centro histórico guarda importantes atrações culturais, a Zona Rosa, no norte da capital, concentra a badalação: lojas de grife, grandes centros comerciais, restaurantes refinados, hotéis de luxo e baladas. Uma boa síntese dessa Colômbia cosmopolita está no bar, restaurante e balada Andrés Carne de Res, cujo conceito é inovador.
O Andrés Carne de Res de Bogotá tem cinco pisos e foi montado em uma estrutura de metal toda vazada. A decoração e o estilo dos garçons, todos universitários, nos transporta para uma Colômbia tradicional que está em perfeita sintonia com tendências internacionais. A casa funciona como restaurante, com uma fabulosa cozinha típica, e como local para dançar e comemorar, com muita música e atores fantasiados que animam a clientela.
Quem dispõe de mais tempo em Bogotá pode conhecer a sede do Andrés Carne de Res, na cidade de Chia, a cerca de 40 minutos de carro da capital colombiana. A melhor maneira de ir é buscar um serviço de transporte junto ao hotel em que se está hospedado, garantindo ida e volta seguras da noitada.
Mesmo para quem não liga para lojas, uma visita à Zona T, calçadão dentro da parte mais nobre da Zona Rosa (entre as calles 82 e 85, na altura da carrera 12), é uma ocasião para ver gente bonita, comer bem e saborear um delicioso café expresso, especialidade da Colômbia. Aliás, quando o assunto é café, os colombianos têm tanto orgulho e tanta certeza de que o produzido por eles é o melhor do mundo, que não resta muita margem para discussão. Os brasileiros podem ter muitas razões para contestar essa afirmação, mas certamente concordarão que o café colombiano é delicioso.
Na Colômbia, os produtores de café souberam se organizar para potencializar os ganhos com seu produto. Em 2002, foi criada pela Federación Nacional de Cafeteros de Colombia a marca Juan Valdez Café, uma espécie de Starbucks local que se beneficia da fama do café colombiano para fazê-lo render negócios no próprio país. O sucesso foi tão grande que hoje já existe uma franquia da Juan Valdez até em Nova York, próximo da Times Square.
Além da Zona Rosa, outra região mais ao norte que se tornou badalada nos anos recentes é a de Usaquén, outrora uma pequena cidade interiorana próxima a Bogotá e hoje praticamente um novo bairro da capital colombiana. As ruas próximas à igreja, no centro de Usaquén, concentram restaurantes e bares de alta qualidade.
Cerca de 50 km ao norte de Bogotá estão as minas de sal de Nemocón e Zipaquirá, dois destinos que realmente valem a viagem. Hoje localizadas a cerca de 2.585 metros de altitude, as minas já foram mar em tempos remotos, por isso restou tanto sal acumulado no subterrâneo. Inúmeros fósseis que indicam a existência de vida marinha há milhões de anos atrás foram encontrados na região.
Minas de sal
A sensação de descer em uma mina de sal não é sufocante. Ao contrário de outras minas, como a de carvão, ela não tem o ar contaminado por partículas nocivas à saúde. Os indígenas já exploravam o sal muito tempo antes da chegada dos espanhóis. Eles preparavam uma espécie de pão de sal com a água retirada da mina para trocar por outras mercadorias.
Por suas propriedades de conservação da carne, o sal foi uma mercadoria valiosa desde a Antiguidade até tempos recentes, quando passou a ser extraído de maneira maciça. Antes que fosse desenvolvida a extração de sal da água do mar, o produto era obtido somente nas minas, o que garantiu por muito tempo a prosperidade dos vilarejos de Zipaquirá e Nemocón.
Além de receberem visitantes, as minas continuam ativas até hoje. Nas galerias da mina de Nemocón, há impressionantes lençóis de água salobra que chegam a conter 310 gramas de sal por litro, taxa de salinidade que se equipara à do Mar Morto. Em Zipaquirá, foi construída uma enorme catedral subterrânea, cavada diretamente em formações rochosas de sal. O fator a se destacar nos dois passeios é o espetáculo de luzes especialmente criado para revelar o interior das minas.
De forma geral, a Bogotá de hoje é uma cidade moderna, que soube preservar seu centro histórico, com um eficaz sistema de transporte público (o TransMilenio) e com um povo simpático e acolhedor. Para quem já fez o circuito Buenos Aires-Santiago- Montevidéu, a capital colombiana certamente reservará agradáveis surpresas. Vale ir e conferir.
Quando ir
Bogotá tem temperaturas estáveis o ano todo por conta de sua baixa latitude. Elas variam de cerca de 6º C, a mínima, e 20º C, a máxima: ou seja, o clima na cidade varia do fresco para o frio, um alerta para quem acha que vai encontrar uma calorosa cidade nos trópicos. As chuvas estão mais concentradas entre março e maio e entre setembro e novembro.
Dicas espertas
Bogotá é hoje uma cidade segura, mas como em qualquer grande cidade latino-americana (São Paulo, Rio de Janeiro ou Cidade do México), certos cuidados devem ser tomados, principalmente com batedores de carteira e ladrões de bolsas e mochilas, que agem em grupos e surrupiam as coisas sem que você perceba. Evite também andar à noite, após as 22h, pelas ruazinhas do centro histórico, principalmente sozinho.
Os táxis por lá são baratos, mas não se arrisque a pegar qualquer um, principalmente nas ruas mais afastadas. Prefira os que são de empresas, os que sejam chamados pelo hotel e os que acabaram de desembarcar um passageiro. Os micro-ônibus (chamados por lá de busetas) também podem ser usados sem susto, assim como o sistema TransMilenio. Basta ter cuidado com seus pertences.
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